Zizi do Gesso denuncia prefeito de Itaporanga por descumprir decisão judicial e manter gratificações ilegais
Despacho do Ministério Público expõe descumprimento deliberado de decisão judicial; vereador Zizi do Gesso acusa prefeito de acumular irregularidades mês após mês.
O cenário político de Itaporanga/SP, já marcado por disputas acaloradas, ganhou contornos de escândalo com a denúncia do vereador Alerson Ferreira da Silva, o Zizi do Gesso, que levou ao Ministério Público documentos revelando que a Prefeitura continua a pagar gratificações ilegais a servidores, em afronta direta a uma decisão definitiva do Tribunal de Justiça de São Paulo. O caso, que mistura desobediência institucional, omissão legislativa e desperdício de recursos públicos, expõe o que parece ser uma engrenagem de irregularidades repetidas mês após mês.
Em agosto de 2024, o Órgão Especial do TJ-SP julgou
inconstitucionais artigos da Lei Complementar nº 188/2023, que permitiam ao
Executivo conceder gratificações genéricas por meio de simples portarias. A
Corte foi categórica: a prática violava os princípios da legalidade, da
moralidade e da impessoalidade, cláusulas pétreas da administração pública. O
acórdão transitou em julgado e afastou qualquer possibilidade de modulação de
efeitos. Em outras palavras, a Prefeitura estava obrigada a encerrar imediatamente
os pagamentos e rever todos os atos administrativos baseados na lei anulada.
O que se viu, no entanto, foi o oposto. A gestão municipal
optou por ignorar a decisão, mantendo os benefícios e editando novas portarias
que continuaram a sangrar os cofres públicos. Como se não bastasse, em 2025 o
prefeito enviou à Câmara o Projeto de Lei Complementar nº 10, que, sob o
pretexto de regularizar a situação, reincide no mesmo vício jurídico: delega ao
Executivo a disciplina das gratificações por decreto, tentativa de manter viva
a manobra declarada inconstitucional. A estratégia lembra o famoso ditado de
que “aos amigos, tudo; aos inimigos, a lei”.
Foi diante dessa afronta que Zizi do Gesso decidiu agir. O
vereador, conhecido por seu estilo direto e popular, não se limitou a
encaminhar documentos ao Ministério Público. Na tribuna da Câmara, deu nome aos
bois: “O prefeito vem cometendo irregularidades a cada mês que passa. Já foram
mais de quinhentos mil reais gastos em gratificações ilegais. Esse dinheiro
dava para comprar uma ambulância, que faria diferença para a população”. A
comparação foi certeira. Em um município que convive com carências crônicas na
saúde, o desperdício de meio milhão de reais em vantagens inconstitucionais
revela mais do que irresponsabilidade: trata-se de um deboche com o
contribuinte.
O despacho do promotor Guilherme Peruchi acolheu a gravidade
da denúncia. No documento, assinado no início de setembro, ele reconhece que
houve descumprimento reiterado da ordem judicial e determinou que tanto
Prefeitura quanto Câmara apresentem informações detalhadas. O Ministério
Público quer saber quem chefiava o Executivo entre julho e dezembro de 2024,
quais servidores receberam as gratificações após o trânsito em julgado da ação
e qual o valor total gasto no período. Também exigiu que a Câmara explique que
medidas de fiscalização adotou e se houve análise de legalidade sobre o Projeto
de Lei Complementar nº 10. O prazo fixado: 15 dias.
Ao expor o caso, Zizi escancarou uma ferida política que
muitos preferiam manter encoberta. Não por acaso, é um dos poucos parlamentares
que se dispôs a confrontar a gestão de frente. A maioria dos vereadores, mesmo
ciente da decisão do TJ-SP, preferiu o silêncio conveniente. Não houve cobrança
formal de providências, não se instauraram comissões de apuração e tampouco se
questionou a legalidade do novo projeto enviado pelo Executivo. A omissão da
Câmara, nesse contexto, equivale a cumplicidade.
A fala do vereador tem peso simbólico e político. Ao
calcular que o valor gasto em gratificações ilegais poderia ter sido destinado
à compra de uma ambulância, ele traduziu em números concretos o tamanho do
prejuízo. Em cidades pequenas, onde cada recurso faz diferença, uma ambulância
pode significar a diferença entre a vida e a morte de pacientes que precisam
ser removidos com urgência. Ao contrário do dinheiro gasto em privilégios, a
ambulância estaria servindo diretamente à população. Essa comparação foi
suficiente para despertar indignação até mesmo entre eleitores que, até então,
acompanhavam o caso de forma distante.
O Ministério Público, por sua vez, já deixou claro que não
aceitará desculpas. O promotor afirmou que ingressará com ação judicial para
garantir a aplicação integral da decisão do TJ-SP. Se confirmada a ilegalidade,
os envolvidos poderão responder por improbidade administrativa, com sanções que
incluem devolução dos valores ao erário, perda de mandato e suspensão dos
direitos políticos. A Procuradoria Jurídica do município também está na mira,
já que, segundo os documentos anexados à denúncia, seus membros continuaram a
receber gratificações mesmo após terem ciência da decisão judicial. A ironia é
evidente: aqueles que deveriam defender a lei optaram por se beneficiar da sua
violação.
O episódio revela ainda um padrão de conduta. Não se trata
de um ato isolado, mas de uma prática sistemática. A fala de Zizi, de que o
prefeito “comete irregularidades a cada mês que passa”, ecoa como síntese de
uma administração que perdeu qualquer compromisso com a legalidade. Quando um
gestor passa a tratar decisões judiciais como meras recomendações e transforma
a lei em obstáculo a ser contornado, instala-se um clima de terra arrasada em
que vale mais a conveniência do que a Constituição.
No plano político, o caso tende a ter repercussões
profundas. A denúncia coloca o prefeito contra a parede e pressiona a Câmara a
abandonar a confortável posição de omissão. Zizi do Gesso surge como voz
dissonante, mas sua atuação pode abrir espaço para que outros vereadores se
sintam compelidos a cobrar providências. Em ano pré-eleitoral, a narrativa de
um prefeito que gasta R$ 500 mil em gratificações ilegais enquanto falta
ambulância na cidade é um prato cheio para a oposição. A imagem do gestor, já arranhada
por críticas anteriores, corre o risco de sofrer danos irreversíveis.
A população, por sua vez, começa a perceber o custo concreto
da desobediência institucional. O dinheiro que deveria ser aplicado em saúde,
educação e infraestrutura está sendo drenado para alimentar privilégios
ilegais. E essa constatação, traduzida na fala simples e direta de Zizi, tem um
poder devastador. O morador que espera horas por atendimento médico entende de
imediato o que significa desperdiçar meio milhão de reais em gratificações:
significa falta de atendimento, falta de equipamentos, falta de cuidado.
O caso também lança luz sobre a fragilidade do sistema de
freios e contrapesos em nível municipal. Quando o Executivo insiste em
descumprir decisões judiciais e o Legislativo fecha os olhos, resta apenas ao
Ministério Público e ao Judiciário o papel de conter o descalabro. Essa
dependência de órgãos externos evidencia a falência da fiscalização política
local. A Câmara, que deveria ser guardiã da legalidade, acabou se transformando
em cúmplice silenciosa da irregularidade.
Ao final, o episódio deixa uma lição amarga. Não se trata
apenas de discutir se gratificações devem ou não ser pagas. O que está em jogo
é o respeito à ordem constitucional, à autoridade das decisões judiciais e ao
compromisso com a moralidade pública. Quando esses pilares são corroídos, a
democracia local se fragiliza e abre espaço para abusos cada vez maiores.
Zizi do Gesso, com sua denúncia, conseguiu transformar
números frios em narrativa política contundente. Ao afirmar que os R$ 500 mil
gastos em gratificações ilegais poderiam ter sido investidos na compra de uma
ambulância, ele resumiu em uma frase a essência da crise: enquanto servidores
privilegiados enriquecem, a população fica sem o básico. O Ministério Público
já acionou as engrenagens da Justiça, mas a pressão popular e política tende a
aumentar. O próximo capítulo dessa história dirá se Itaporanga continuará sendo
palco de desobediência ou se, finalmente, os responsáveis serão chamados a
pagar a conta.
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