EDITORIAL - A falta de vergonha na cara dos políticos de Itapeva...
Há menos de um ano atrás o Parque Pilão D'Água foi reformado pela Prefeitura de Itapeva, sendo reaberto para uso da população sob o pretexto de ter sido revitalizado.Nada mais irônico que batizar de revitalizado justamente um parque ecológico que foi desmatado arbitrariamente sem nenhum projeto de rearborização ou reformulação arquitetônica para ser reaberto por parte das secretarias responsáveis pelo equipamento público.
A partir da "revitalização" o Parque Pilão D'Água se tornou cenário de duas mortes trágicas. A primeira em setembro de 2024, quando um adolescente foi à óbito ao mergulhar e se afogar na represa, a qual convive com o completo descaso de fiscalização por parte das autoridades municipais gestoras do local.
A segunda morte fatídica ocorreu neste começo de ano de 2025. O cadáver de um cidadão foi encontrado boiando na represa, sendo mais uma vez acionada a ocorrência perante o Corpo de Bombeiros, Guarda Civil Municipal e demais serviços policiais para apurar o fato e cumprir zelosamente seu dever de atendimento da ocorrência.
Em resumo: menos de seis meses depois do primeiro incidente com final trágico para reputação do dito parque "revitalizado" ocorre a segunda desgraça que resulta na morte de mais uma pessoa.
As autoridades de gestão municipal, responsáveis pela administração do parque, não se manifestaram em nenhuma das duas ocorrências, muito menos tomaram providências imediatas para tornar o local seguro para evitar novamente o que podemos chamar de trágicos acidentes, mas que na realidade refletem o descaso da administração pública e políticos de plantão com situações dessa natureza.
Ao dizer "situações dessa natureza" sejamos francos em explicitar que se trata da morte de pessoas em locais públicos inseguros e sem a devida fiscalização operacionalizada ou controle preventivo por parte dos gestores públicos.
Como se não bastasse a rodovia SP 258 ceifando a vida de dezenas de pessoas todos os anos, temos um local público em Itapeva que deveria ser destinado ao lazer, cultura, esporte, turismo se torando em teatro macabro de mortes por acidentes fatais e uso de entorpecentes dentro do seu perímetro e nos arredores.
Se os acidentes mortais da SP 258 são tão somente apenas motivo de formação de comissões parlamentares de políticos incompetentes que reclamam e reivindicam melhorias e duplicação da rodovia para serem solenemente ignorados pelo governo estadual, sem receber nenhuma devolutiva administrativa que gere efeitos para ao menos tornar a rodovia mais segura e menos letal, hoje estamos perplexos com o silêncio administrativo e tamanho descaso do governo municipal em nada fazer após duas mortes dentro de um equipamento público de sua responsabilidade.
Apesar de toda e qualquer reclamação sobre a postura dos políticos que participam da gestão da cidade, sempre animados com frases feitas e motivacionais afirmando que irão tornar a cidade melhor para se viver, é incontestável que agem com muito pouco empenho e responsabilidade para realizar algo de efetivo para tornar tais melhorias possíveis.
A pandemia, aparentemente já esquecida na memória de nossos políticos de plantão, foi sem dúvida uma mórbida demonstração que vereadores estavam mais interessados em defender a manutenção gananciosa por lucros, sob pretexto de preservar empregos e empresas sendo arbitrariamente contrários à necessidade de fechamentos temporários de atividades (lockdowns) para fins de preservação da saúde dos habitantes da cidade.
Gastaram a maior parte do tempo reclamando e sendo contra medidas sanitárias impostas pelo governo estadual e municipal, agilizando apenas com prontidão uma comissão para investigar uma falsa acusação de desvio de recursos destinados para enfretamento da pandemia. Por essas e outras, temos uma rápida noção do que péssimos políticos, denutridos de ética e verdadeiro senso de dever público são capazes.
Recordemos sempre - para que não se caia no esquecimento - que os vereadores de Itapeva na legislatura recém terminada aprovaram uma lei inconstitucional, contrariando decreto estadual e municipal de fechamento de atividades de diversos setores por questões de gravidade sanitária da pandemia, fato que gerou em aumento e lotação dos leitos da Santa Casa por contaminação viral da covid-19.
Posto esse fato passado como pano de fundo resta evidente que não há vestígio de bom senso, responsabilidade e humanidade por parte da classe política local diante das mais graves situações que envolvem riscos à vida de terceiros, mesmo em grande escala, e menos ainda em escala reduzida ou pulverizada quando mortes acontecem mediante casos pontuais, como acidentes e atendimentos de saúde desqualificados por exemplo.
A preservação da vida diante de um vírus que aniquilou dezenas de vidas era banalizada sob teorias absurdas de quebradeira generalizada da economia, sendo também hoje vista a falta de empatia com a morte de duas pessoas dentro de um parque municipal por parte de diversos segmentos da sociedade local, em específico dos políticos.
A somatória de fatos que resultam em descaso diante de mortes de pessoas por qualquer razão, seja acidentes ou problemas de saúde sub diagnosticados, apenas revelam o completo descaso oriundo da omissão administrativa, apesar dos slogans de amor a cidade e luta em defesa dos direitos de todos os cidadãos serem repetidos diariamente pelos nossos políticos.
Não vale absolutamente nada um vereador ou prefeito alegar em declarações de marketing de rede social que estão preocupados com os destinos e rumos do município, quando notoriamente nada fazem para solucionar e evitar que pessoas sofram em decorrência de insegurança de uso de equipamentos públicos como rodovias, parques e até mesmo ruas e vias públicas municipais. O mesmo serve para quando unidades de saúde públicas falham indesculpavelmente em atender decentemente os nossos cidadãos.
Devemos ainda perceber que os acidentes de trânsito que causam óbitos ou mutilações em Itapeva no decorrer dos últimos tempos é crescente. A perda da vida ou dano definitivo à saúde de motoristas ou pedestres é sem dúvida maior que qualquer prejuízo patrimonial de danos aos veículos.
A ausência de políticas públicas assertivas de fiscalização, planejamento e manutenção da cidade também gera reflexos nesse sentido, pois em inúmeros casos existe omissão, negligência, ou simplesmente inexiste fiscalização de situações que causam danos e eventualmente acidentes graves com mortes no trânsito, em canteiros de obras irregulares ou até mesmo dentro de repartições públicas de saúde por descaso e até mesmo imperícia no atendimento de pacientes.
Toda essa reflexão deve servir para que a presente administração do Poder Executivo que inicia sua trajetória de governo neste ano avalie todas essas situações e não se torne novamente e repetidamente uma variável na equação de descaso e omissão que vem causando desgraças em equipamentos públicos que são obrigatoriamente geridos pela Prefeitura Municipal.
Os fatos de mortes acidentais ocorridas no Pilão D'Água devem ser evitados ao máximo com atenção para esses casos noticiados, assim como ocorrências de mortes no trânsito rodoviário, em estradas rurais e ruas do município devem ser motivo de preocupação e ação preventiva das autoridades de governo municipal.
A morte por acidentes ou falhas em equipamentos públicos não escolhe vítimas mediante critérios racionais e lógicos. A morte de pessoas sejam elas quem forem são apenas um resultado nefasto da variável da omissão, incompetência e descaso de quem deveria gerir com eficiência bens públicos. O trágico caso da queda de ponte no Tocantins apesar dos relatórios de necessidade urgente de manutenção expedidos em 2022 são exemplo disso.
Da mesma forma que um desconhecido ficou desaparecido por dias após ter dado entrada em uma unidade de saúde, até ser encontrado morto boiando em uma represa, a fatalidade pode acontecer até em face de um político conhecido quando trafega por uma rua ou rodovia insegura e sem a devida manutenção, uma rua ou estrada que ele mesmo deu o nome em homenagem a algum ilustre conhecido do povo.
Em síntese: a insegurança em equipamentos públicos afeta a todos negativamente. Essa lição precisa ser aprendida pelos nossos gestores e políticos inoportunos. Àqueles que vivem no mundo do faz de conta da política das redes sociais, onde tudo dará certo, mesmo que não haja trabalho sério e responsabilidade perante a população, isto é, não basta apenas repetição de slogans, é preciso ter vergonha na cara.
A falta de vergonha na cara dos políticos de Itapeva já causou muita desgraça para o povo dessa cidade, inclusive a morte de pessoas cujas histórias trágicas são retratadas ou não no noticiário, mas são esquecidas como se nada de ruim tivesse acontecido por omissão e descaso de políticos.
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