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Capitão PM Vilmar Duarte Maciel: Inovação e segurança na trilha acadêmica

Defesa de mestrado abre novos horizontes para policiamento comunitário e segurança escolar, destacando a fusão entre prática e teoria na Polícia Militar

 No cenário contemporâneo da segurança pública, a intersecção entre a formação acadêmica e a experiência prática no campo Polícial emerge como um elemento crucial para o aprimoramento das estratégias e metodologias empregadas no combate à criminalidade e na promoção da ordem pública. Nesse contexto, figura o Capitão PM Vilmar Duarte Maciel, comandante da Força Tática do 54º Batalhão de Polícia Militar do Interior, localizado em Itapeva/SP, que recentemente defendeu sua dissertação de mestrado em Ciências Políciais de Segurança e Ordem Pública. Este marco acadêmico não apenas representa um passo significativo em sua carreira, pavimentando o caminho para futuras promoções ao posto de Major e Tenente Coronel, mas também reflete seu compromisso com o aperfeiçoamento técnico-profissional na área de segurança.


Em uma entrevista exclusiva para o Jornal Noalvo, o Capitão Maciel compartilha sua trajetória na Polícia Militar, desde seu ingresso como soldado até alcançar o posto de comandante da Força Tática, entrelaçando suas experiências práticas com a busca constante pelo conhecimento acadêmico. Ele discorre sobre as motivações que o levaram a seguir a carreira Polícial,os desafios enfrentados ao conciliar o trabalho operacional com os estudos e, especialmente, os insights de sua pesquisa de mestrado, que aborda novas perspectivas de interação entre a Polícia Militar e a comunidade escolar, visando aprimorar as estratégias de segurança pública.

Esta entrevista se propõe a ser um reflexo da dedicação do Capitão Maciel à sua profissão e ao seu desenvolvimento intelectual, evidenciando a importância da educação continuada para os profissionais da segurança pública e a relevância de abordagens inovadoras no Políciamento comunitário. Acompanhe-nos nesta conversa esclarecedora, que não apenas joga luz sobre a carreira e as conquistas do Capitão Maciel, mas também oferece valiosas lições e inspirações para Políciais militares e civis que aspiram a excelência profissional e acadêmica em suas carreiras.

Acompanhe a entrevista na íntegra:

JORNAL NOALVO: Conte-nos um pouco sobre sua história. Por que decidiu ingressar na Polícia Militar?

CAPITÃO: Ingressei na Polícia Militar do Estado de São Paulo aos dezenove anos de idade como soldado, ou seja, era o ano de 1996. Assim como muitos jovens de minha idade, à época buscava um emprego que me possibilitasse estabilidade financeira, claro que teve também admiração e identificação, caso contrário seria difícil ficar pelas exigências da profissão. Então foi com essa perspectiva que me estimulei e ingressei na carreira Polícial militar. Três anos após o Curso de Formação de Soldados, obtive aprovação no vestibular da FUVEST para o Curso de Formação de Oficiais na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, onde pude iniciar minha carreira no oficialato da PM.

JORNAL NOALVO: O Senhor tem formação acadêmica o que o levou a estudar?

CAPITÃO: O fato interessante é que quando cheguei no curso para soldados em 1996, eu não tinha conhecimento algum sobre a estrutura da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sua grandeza e as possibilidades de que a carreira podia me propiciar. Passados três anos, quando cheguei a Academia para realizar o Curso de Formação de Oficiais (CFO), comecei a ter conhecimento através de meus professores do universo acadêmico, e da necessidade que o oficial da Polícia Militar tem de estar em constante busca de aprendizado para melhor servir a comunidade. Para tanto, ainda como cadete, passei a perceber que o Brasil e o mundo é nada mais e nada menos que um espectro amplo e diversificado, com diferentes correntes de pensamento e filosofias, neste período, conheci a obra de Edmund Burke que é por muitos considerado o pai do conservadorismo moderno, ele sempre enfatizou a importância da tradição, da ordem social, da prudência política e defendeu a preservação das instituições e valores tradicionais, de pronto, ele foi um autor que aguçou ainda mais a minha curiosidade a pesquisar no campo científico acerca de um sistema que, podemos trabalhar em parcerias num modelo de multiagências, junto as instituições públicas, sem buscar destruir as suas estruturas. Após formado, ainda demorei uns anos porque o trabalho de aspirante e 2° tenente exige uma dedicação plena no início da carreira com o serviço operacional e como fui classificado num Batalhão Metropolitano de São Paulo a dedicação era plena ao trabalho de rua.

JORNAL NOALVO: Quais as dificuldades enfrentadas por você como Polícial militar, quando decidiu e estudar?

CAPITÃO: As dificuldades principais sempre foram a falta de tempo por conta do trabalho, demorei para fazer uma Graduação, assim como para fazer uma Pós-Graduação que demanda dedicação, concentração e tempo para leitura e pesquisa de campo e pôr no início da carreira trabalhar num Batalhão da Capital e morar no interior, a correria das viagens dificultava muito.
Além disso, pelo fato de eu ter em meu mestrado pesquisado o próprio programa que desenvolvemos na região de Itapeva, sempre pairava um certo receio quanto o que realmente era aceito no meio dos educadores e da minha própria instituição. Mas o importante aqueles que se aventurarem neste caminho é sempre buscar se dedicar e estabelecer metas para alcançar seus objetivos.

JORNAL NOALVO: Sobre o que fala a sua Dissertação de Mestrado?

CAPITÃO: No tocante à minha Dissertação de Mestrado, defendi perante a banca o TEMA: Segurança Escolar: novas perspectivas de interação entre a Polícia Militar e a comunidade por meio da estratégia de trabalho em rede. Busquei analisar as perspectivas da sociedade quanto ao Políciamento comunitário em escolas, com destaque para o Programa Vizinhança Solidária Escolar (PVS Escolar) e a preocupação e medidas quanto aos recentes ataques ocorridos em instituições de ensino. Para isso, foram explorados os principais fundamentos do Políciamento comunitário em escolas como uma abordagem preventiva, a fim de promover a segurança e o bem-estar dos estudantes. Além disso, se discutiu as diferentes visões da sociedade em relação a essa estratégia, considerando os benefícios e preocupações relacionados à presença Polícial nas escolas. Por fim, foram analisados os recentes ataques como um ponto de reflexão sobre a importância de repensar as estratégias de segurança escolar, particularmente no Estado de São Paulo.

JORNAL NOALVO: Capitão poderia explicar o que seria Políciamento Escolar?

CAPITÃO: O Políciamento escolar, em curtas palavras, é uma modalidade exclusiva dos estabelecimentos de ensino, em que se faz o intercâmbio com a comunidade escolar em face de demandas específicas no entorno das unidades, como entrada e saída de alunos, presença de estranhos (potenciais agressores, traficantes de drogas, arruaceiros, pedófilos etc.), existência de comércios de bebidas alcoólicas ou produtos vedados aos menores, atendimento a solicitações do corpo diretivo e/ou administrativo e outras atividades que envolvam discentes, docentes ou interessados ligados a essa comunidade. Isso não quer dizer que o Polícial que faça essa atividade não possa atuar em situações criminais corriqueiras, atendimento de ocorrências de maior vulto ou vice e versa (que o Polícial de unidades de radiopatrulha não possa atender solicitação da comunidade escolar), mas indica, ao menos, uma especialidade do agente.

JORNAL NOALVO: Nos explica o que seria o Centro de Altos Estudos de Segurança "Cel PM Nelson Freire Terra" (CAES) da Polícia Militar do Estado de São Paulo?

CAPITÃO: Dentro da estrutura da Polícia Militar do Estado de São Paulo é um Órgão de Apoio de Ensino Superior (OAES) de pós-graduação profissional da Polícia Militar do Estado de São Paulo que tem por finalidade o desenvolvimento de cursos de Mestrado e Doutorado em Ciências Políciais de Segurança e Ordem Pública. É um Centro com a missão de aperfeiçoar capitães PM, habilitando-os à ascensão ao oficialato superior (promoção a major e, posteriormente, a tenente-coronel), visando ao exercício das funções de oficiais de estado-maior e ao assessoramento no planejamento das missões legais atribuídas à Instituição. Também este mesmo Órgão é responsável em realiza o Curso Superior de Polícia (CSP), destinado aos oficiais superiores (majores e tenentes-coronéis), habilitando-os à promoção ao posto de coronel PM para desempenho de funções no âmbito político e estratégico da polícia paulista. São cursos obrigatórios destinados a habilitar o oficial ao acesso na escala hierárquica, conforme previsão legal. Recentemente, Lei Complementar Estadual nº 1036/08, estabeleceu o Sistema de Ensino da Polícia Militar (nova Lei de Ensino da PMESP), proporcionado ao CAO e o CSP o reconhecimento como cursos de Mestrado e Doutorado em “Ciências Políciais de Segurança e Ordem Pública”, respectivamente, tornando o ano de 2008 um marco histórico para a Polícia Militar do Estado de São Paulo.

JORNAL NOALVO: O senhor pode nos explicar o que é a Polícia Militar e a diferença entre Polícia Civil?

CAPITÃO: A Polícia Militar é uma corporação que visa garantir o bem-estar e a segurança da sociedade. Sendo responsabilidade da esfera de governo estadual, a manutenção da Polícia Militar é de responsabilidade de cada unidade federativa por meio da Secretaria de Segurança Pública. Exceção feita no caso a Polícia Militar do Distrito Federal, em que aquela instituição é subordinada à União. A diferença entre as duas instituições está na atuação da aplicação das leis, a Polícia Militar combate diretamente com os atos ilícitos em curso ou recém registrados. Essa é a maior diferença entre a Polícia Militar e a Polícia Civil, pois enquanto cabe a PM coibir atividades suspeitas de forma imediata, a PC lida com as infrações que já ocorreram e necessitam de investigação.

JORNAL NOALVO: Qual o seu conselho para os Políciais que leem essa entrevista?

CAPITÃO: Aconselhar é sempre delicado, mas creio que a educação e o mundo acadêmico ainda são possibilidades que nos chegam para que não só possamos aprender conhecimentos, mas criar a possibilidade de produção ou ajudar na sua construção de algo. Muitas das vezes desconstruirmos o que é dado e que assim possamos vislumbrar novas perspectivas. Nunca devemos nos esquecer de que o aprendizado é um processo vitalício. “A educação do homem nunca está completa até sua morte”, observação feita por Robert E. Lee, comandante-em-chefe do exército confederado na Guerra de Secessão Americana.
As relações de poder e mecanismos ideológicos perfazem todas as instituições sociais, inclusive as universitárias, no entanto, como Políciais, termos a chance de adquirirmos conhecimento para enxergarmos no óbvio um universo a ser conhecido é um prêmio que não tem valor e, por ser inestimável, talvez seja o caminho diferencial de mudança para nossas instituições Políciais militares possam continuar crescendo e evoluindo.


A jornada do Capitão PM Vilmar Duarte Maciel ilustra com vivacidade a sinergia entre a prática policial e a formação acadêmica, evidenciando um caminho de constante evolução e compromisso com a excelência na segurança pública. Sua trajetória, marcada pela ascensão desde o posto de soldado até o comando da Força Tática do 54º Batalhão de Polícia Militar do Interior e a defesa bem-sucedida de sua dissertação de mestrado, reflete um modelo inspirador de dedicação, resiliência e busca contínua pelo conhecimento.

A dissertação do Capitão Maciel, focada em estratégias inovadoras de policiamento comunitário nas escolas, não apenas contribui para o corpo acadêmico das Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, mas também oferece abordagens práticas que podem ser implementadas para aprimorar a segurança escolar e fortalecer a relação entre a polícia e a comunidade. Seu trabalho ressalta a importância de adaptar-se a novos desafios e cenários na segurança pública, demonstrando que a evolução das estratégias policiais passa necessariamente pelo investimento em educação e pesquisa.

As reflexões do Capitão Maciel durante a entrevista servem como um lembrete poderoso de que a educação e o aprimoramento contínuo são fundamentais não apenas para o crescimento individual dos policiais, mas também para o desenvolvimento e a eficácia da instituição policial como um todo. Seu conselho aos colegas policiais, enfatizando a importância da educação contínua e da abertura a novas perspectivas, ecoa como uma chamada à ação para todos aqueles comprometidos com o serviço público e a segurança da comunidade.

Em suma, a entrevista com o Capitão PM Vilmar Duarte Maciel reafirma o valor inestimável da integração entre experiência prática e conhecimento acadêmico no campo da segurança pública. Seu percurso e insights não apenas enriquecem o debate sobre as melhores práticas em policiamento comunitário, mas também inspiram os atuais e futuros membros das forças de segurança a perseguirem a excelência, tanto no campo operacional quanto no acadêmico, em prol de uma sociedade mais segura e justa.

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