Capitão PM Vilmar Duarte Maciel: Inovação e segurança na trilha acadêmica
Defesa de mestrado
abre novos horizontes para policiamento comunitário e segurança escolar,
destacando a fusão entre prática e teoria na Polícia Militar
Em uma entrevista exclusiva para o Jornal Noalvo, o Capitão Maciel compartilha sua trajetória na Polícia Militar, desde seu ingresso como soldado até alcançar o posto de comandante da Força Tática, entrelaçando suas experiências práticas com a busca constante pelo conhecimento acadêmico. Ele discorre sobre as motivações que o levaram a seguir a carreira Polícial,os desafios enfrentados ao conciliar o trabalho operacional com os estudos e, especialmente, os insights de sua pesquisa de mestrado, que aborda novas
perspectivas de interação entre a Polícia Militar e a comunidade escolar, visando aprimorar as estratégias de segurança pública.
Esta entrevista se propõe a ser um reflexo da dedicação do Capitão Maciel à sua profissão e ao seu desenvolvimento intelectual, evidenciando a importância da educação continuada para os profissionais da segurança pública e a relevância de abordagens inovadoras no Políciamento comunitário. Acompanhe-nos nesta conversa esclarecedora, que não apenas joga luz sobre a carreira e as conquistas do Capitão Maciel, mas também oferece valiosas lições e inspirações para Políciais militares e civis que aspiram a excelência profissional e acadêmica em suas carreiras.
Acompanhe a entrevista na íntegra:
JORNAL NOALVO: Conte-nos um pouco
sobre sua história. Por que decidiu ingressar na Polícia Militar?
CAPITÃO: Ingressei na Polícia Militar
do Estado de São Paulo aos dezenove anos de idade como soldado, ou seja, era o
ano de 1996. Assim como muitos jovens de minha idade, à época buscava um
emprego que me possibilitasse estabilidade financeira, claro que teve também
admiração e identificação, caso contrário seria difícil ficar pelas exigências
da profissão. Então foi com essa perspectiva que me estimulei e ingressei na
carreira Polícial militar. Três anos após o Curso de Formação de Soldados,
obtive aprovação no vestibular da FUVEST para o Curso de Formação de Oficiais
na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, onde pude iniciar minha
carreira no oficialato da PM.
JORNAL NOALVO: O Senhor tem
formação acadêmica o que o levou a estudar?
CAPITÃO: O fato interessante é que
quando cheguei no curso para soldados em 1996, eu não tinha conhecimento algum
sobre a estrutura da Polícia Militar do Estado de São Paulo, sua grandeza e as
possibilidades de que a carreira podia me propiciar. Passados três anos, quando
cheguei a Academia para realizar o Curso de Formação de Oficiais (CFO), comecei
a ter conhecimento através de meus professores do universo acadêmico, e da
necessidade que o oficial da Polícia Militar tem de estar em constante busca de
aprendizado para melhor servir a comunidade. Para tanto, ainda como cadete,
passei a perceber que o Brasil e o mundo é nada mais e nada menos que um
espectro amplo e diversificado, com diferentes correntes de pensamento e
filosofias, neste período, conheci a obra de Edmund Burke que é por muitos
considerado o pai do conservadorismo moderno, ele sempre enfatizou a
importância da tradição, da ordem social, da prudência política e defendeu a
preservação das instituições e valores tradicionais, de pronto, ele foi um
autor que aguçou ainda mais a minha curiosidade a pesquisar no campo científico
acerca de um sistema que, podemos trabalhar em parcerias num modelo de
multiagências, junto as instituições públicas, sem buscar destruir as suas
estruturas. Após formado, ainda demorei uns anos porque o trabalho de aspirante
e 2° tenente exige uma dedicação plena no início da carreira com o serviço
operacional e como fui classificado num Batalhão Metropolitano de São Paulo a
dedicação era plena ao trabalho de rua.
JORNAL NOALVO: Quais as dificuldades
enfrentadas por você como Polícial militar, quando decidiu e estudar?
CAPITÃO: As dificuldades principais
sempre foram a falta de tempo por conta do trabalho, demorei para fazer uma
Graduação, assim como para fazer uma Pós-Graduação que demanda dedicação,
concentração e tempo para leitura e pesquisa de campo e pôr no início da carreira
trabalhar num Batalhão da Capital e morar no interior, a correria das viagens
dificultava muito.
Além disso, pelo fato de eu ter em meu mestrado pesquisado o próprio programa que desenvolvemos na região de Itapeva, sempre pairava um certo receio quanto o que realmente era aceito no meio dos
educadores e da minha própria instituição. Mas o importante aqueles que se aventurarem neste caminho é sempre buscar se dedicar e estabelecer metas para alcançar seus objetivos.
JORNAL NOALVO: Sobre o que fala a sua Dissertação de Mestrado?
CAPITÃO: No tocante à minha
Dissertação de Mestrado, defendi perante a banca o TEMA: Segurança Escolar:
novas perspectivas de interação entre a Polícia Militar e a comunidade por meio
da estratégia de trabalho em rede. Busquei analisar as perspectivas da sociedade
quanto ao Políciamento comunitário em escolas, com destaque para o Programa
Vizinhança Solidária Escolar (PVS Escolar) e a preocupação e medidas quanto aos
recentes ataques ocorridos em instituições de ensino. Para isso, foram
explorados os principais fundamentos do Políciamento comunitário em escolas
como uma abordagem preventiva, a fim de promover a segurança e o bem-estar dos
estudantes. Além disso, se discutiu as diferentes visões da sociedade em
relação a essa estratégia, considerando os benefícios e preocupações relacionados
à presença Polícial nas escolas. Por fim, foram analisados os recentes ataques
como um ponto de reflexão sobre a importância de repensar as estratégias de
segurança escolar, particularmente no Estado de São Paulo.
JORNAL NOALVO: Capitão poderia
explicar o que seria Políciamento Escolar?
CAPITÃO: O Políciamento escolar, em
curtas palavras, é uma modalidade exclusiva dos estabelecimentos de ensino, em
que se faz o intercâmbio com a comunidade escolar em face de demandas
específicas no entorno das unidades, como entrada e saída de alunos, presença
de estranhos (potenciais agressores, traficantes de drogas, arruaceiros,
pedófilos etc.), existência de comércios de bebidas alcoólicas ou produtos
vedados aos menores, atendimento a solicitações do corpo diretivo e/ou
administrativo e outras atividades que envolvam discentes, docentes ou
interessados ligados a essa comunidade. Isso não quer dizer que o Polícial que
faça essa atividade não possa atuar em situações criminais corriqueiras,
atendimento de ocorrências de maior vulto ou vice e versa (que o Polícial de
unidades de radiopatrulha não possa atender solicitação da comunidade escolar),
mas indica, ao menos, uma especialidade do agente.
JORNAL NOALVO: Nos explica o que
seria o Centro de Altos Estudos de Segurança "Cel PM Nelson Freire
Terra" (CAES) da Polícia Militar do Estado de São Paulo?
CAPITÃO: Dentro da estrutura da Polícia
Militar do Estado de São Paulo é um Órgão de Apoio de Ensino Superior (OAES) de
pós-graduação profissional da Polícia Militar do Estado de São Paulo que tem
por finalidade o desenvolvimento de cursos de Mestrado e Doutorado em Ciências Políciais
de Segurança e Ordem Pública. É um Centro com a missão de aperfeiçoar capitães
PM, habilitando-os à ascensão ao oficialato superior (promoção a major e,
posteriormente, a tenente-coronel), visando ao exercício das funções de
oficiais de estado-maior e ao assessoramento no planejamento das missões legais
atribuídas à Instituição. Também este mesmo Órgão é responsável em realiza o
Curso Superior de Polícia (CSP), destinado aos oficiais superiores (majores e
tenentes-coronéis), habilitando-os à promoção ao posto de coronel PM para
desempenho de funções no âmbito político e estratégico da polícia paulista. São
cursos obrigatórios destinados a habilitar o oficial ao acesso na escala
hierárquica, conforme previsão legal. Recentemente, Lei Complementar Estadual
nº 1036/08, estabeleceu o Sistema de Ensino da Polícia Militar (nova Lei de
Ensino da PMESP), proporcionado ao CAO e o CSP o reconhecimento como cursos de
Mestrado e Doutorado em “Ciências Políciais de Segurança e Ordem Pública”,
respectivamente, tornando o ano de 2008 um marco histórico para a Polícia
Militar do Estado de São Paulo.
JORNAL NOALVO: O senhor pode nos
explicar o que é a Polícia Militar e a diferença entre Polícia Civil?
CAPITÃO: A Polícia Militar é uma corporação que visa garantir o bem-estar e a segurança da sociedade. Sendo responsabilidade da esfera de governo estadual, a manutenção da Polícia Militar é de responsabilidade de cada unidade federativa por meio da Secretaria de Segurança Pública. Exceção feita no caso a Polícia Militar do Distrito Federal, em que aquela instituição é subordinada à União. A diferença entre as duas instituições está na atuação da aplicação das leis, a Polícia Militar combate diretamente com os atos ilícitos em curso ou recém registrados. Essa é a maior diferença entre a Polícia Militar e a Polícia Civil, pois enquanto cabe a PM coibir atividades suspeitas de forma imediata, a PC lida com as infrações que já ocorreram e necessitam de investigação.
JORNAL NOALVO: Qual o seu conselho
para os Políciais que leem essa entrevista?
CAPITÃO: Aconselhar é sempre
delicado, mas creio que a educação e o mundo acadêmico ainda são possibilidades
que nos chegam para que não só possamos aprender conhecimentos, mas criar a
possibilidade de produção ou ajudar na sua construção de algo. Muitas das vezes
desconstruirmos o que é dado e que assim possamos vislumbrar novas
perspectivas. Nunca devemos nos esquecer de que o aprendizado é um processo
vitalício. “A educação do homem nunca está completa até sua morte”, observação
feita por Robert E. Lee, comandante-em-chefe do exército confederado na Guerra
de Secessão Americana.
As relações de poder e mecanismos ideológicos perfazem todas as instituições sociais, inclusive as
universitárias, no entanto, como Políciais, termos a chance de adquirirmos conhecimento para enxergarmos no óbvio um universo a ser conhecido é um prêmio que não tem valor e, por ser inestimável, talvez seja o caminho diferencial de mudança para nossas instituições Políciais militares possam continuar crescendo
e evoluindo.
A jornada do Capitão PM Vilmar Duarte Maciel ilustra com vivacidade a sinergia entre a prática policial e a formação acadêmica, evidenciando um caminho de constante evolução e compromisso com a excelência na segurança pública. Sua trajetória, marcada pela ascensão desde o posto de soldado até o comando da Força Tática do 54º Batalhão de Polícia Militar do Interior e a defesa bem-sucedida de sua dissertação de mestrado, reflete um modelo inspirador de dedicação, resiliência e busca contínua pelo conhecimento.
A dissertação do Capitão Maciel, focada em estratégias inovadoras de policiamento comunitário nas escolas, não apenas contribui para o corpo acadêmico das Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública, mas também oferece abordagens práticas que podem ser implementadas para aprimorar a segurança escolar e fortalecer a relação entre a polícia e a comunidade. Seu trabalho ressalta a importância de adaptar-se a novos desafios e cenários na segurança pública, demonstrando que a evolução das estratégias policiais passa necessariamente pelo investimento em educação e pesquisa.
As reflexões do Capitão Maciel durante a entrevista servem como um lembrete poderoso de que a educação e o aprimoramento contínuo são fundamentais não apenas para o crescimento individual dos policiais, mas também para o desenvolvimento e a eficácia da instituição policial como um todo. Seu conselho aos colegas policiais, enfatizando a importância da educação contínua e da abertura a novas perspectivas, ecoa como uma chamada à ação para todos aqueles comprometidos com o serviço público e a segurança da comunidade.
Em suma, a entrevista com o Capitão PM Vilmar Duarte Maciel
reafirma o valor inestimável da integração entre experiência prática e
conhecimento acadêmico no campo da segurança pública. Seu percurso e insights
não apenas enriquecem o debate sobre as melhores práticas em policiamento
comunitário, mas também inspiram os atuais e futuros membros das forças de
segurança a perseguirem a excelência, tanto no campo operacional quanto no
acadêmico, em prol de uma sociedade mais segura e justa.
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